#14 em um relacionamento tóxico com a firma
por que às vezes é tão difícil deixar um trabalho que nos adoece?
hey, germiner
basta um sonho de valsa e um pedido de perdão pra você voltar correndo. e não estou falando do seu crush tóxico, mas do emprego que te adoece.
todo mundo tem boleto, então não dá pra ignorar que o salário pesa na decisão de terminar com a firma. mas é verdade também que a gente às vezes passa anos em lugares, relações e situações que nos fazem mal por outras razões (quase sempre difíceis de nomear).
quem nos fala disso é a psicóloga desirée cassado, professora da the school of life brasil, que está à frente do curso ficar ou partir. em entrevista à germina, ela explica como reproduzimos padrões de dependência emocional em nossas relações de trabalho.
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germina: por que muitas vezes permanecemos com amigos, parceiros ou em situações que não nos fazem bem?
desirée: muitas vezes, nos mantemos presos a relacionamentos ou situações prejudiciais por medo do desconhecido. a familiaridade, mesmo que dolorosa, pode parecer mais segura do que a incerteza.
também há questões de autoestima e dependência emocional – frequentemente acreditamos que merecemos o tratamento que recebemos ou tememos que não encontraremos algo melhor. isso, junto com a esperança teimosa de que as coisas vão melhorar, nos prende ainda mais.
germina: em que medida repetimos esse mecanismo em nossas relações de trabalho, permanecendo em espaços que nos adoecem?
desirée: nos ambientes de trabalho, vemos um espelho das nossas relações pessoais. ficamos em empregos tóxicos por medo de perder a estabilidade financeira ou por achar que a resiliência é sinônimo de sucesso.
a cultura do “trabalhe até cair” glorifica a capacidade de suportar qualquer coisa, fazendo-nos normalizar condições insalubres.
a ideia de mudar pode parecer tão assustadora que preferimos aguentar o que conhecemos.
germina: o desemprego está grande, a informalidade também. como escolher entre ficar e partir, levando em conta a questão econômica?
desirée: escolher entre ficar e partir em um contexto de alto desemprego e informalidade é complicado e pessoal. o fator econômico é crucial, mas precisamos balancear isso com nossa saúde mental e física.
planejar a saída, enquanto ainda se está empregado, pode ser uma estratégia eficaz. crie uma rede de apoio e busque alternativas gradualmente. avalie se o impacto do ambiente de trabalho na sua saúde supera os benefícios financeiros de permanecer.
germina: recentemente, viralizou na internet uma planilha colaborativa das empresas mais difíceis de se trabalhar no brasil. entre os mais de 10 mil relatos, havia queixas de assédio moral, sobrecarga de trabalho e falta de transparência nos processos. ironicamente, muitas dessas companhias ofereciam benefícios cobiçados, como gympass e um bom vale-refeição. como enxergar o adoecimento no trabalho em meio a tantos agrados e à vulnerabilidade econômica em que o trabalhador se encontra?
desirée: os benefícios oferecidos podem ser vistos como uma fachada para mascarar um ambiente de trabalho tóxico. esses mimos criam uma ilusão de bem-estar que nos distrai dos verdadeiros problemas.
é essencial desenvolver uma visão crítica e reconhecer que nenhum benefício compensa um ambiente que adoece. precisamos valorizar a transparência e a cultura organizacional saudável mais do que os benefícios superficiais.
germina: existe alguma similaridade entre esse "morde e assopra" das empresas e relacionamentos abusivos em que o abusador pede desculpas, mas enche a pessoa de presentes e outros ganhos secundários?
desirée: há uma grande similaridade entre o comportamento das empresas e as dinâmicas de relações abusivas. a ambivalência é uma característica comum.
assim como em relacionamentos abusivos, onde há uma alternância entre maus-tratos e gestos de carinho ou presentes, as empresas podem usar benefícios para manter os funcionários confusos e dependentes.
esse “morde e assopra” gera uma ambiguidade que torna difícil para a pessoa ver a situação como ela realmente é. essa ambivalência emocional mantém o trabalhador preso, oscilando entre gratidão e sofrimento.
germina: levando em conta que somos parte ativa nesse tipo de vínculo, como identificar o papel que nos cabe na situação e assumir uma postura autônoma?
desirée: assumir nosso papel em situações tóxicas exige coragem e autoconhecimento. precisamos identificar nossos padrões de comportamento e entender nossas motivações e medos.
a terapia pode ser uma ferramenta valiosa nesse processo, ajudando a desenvolver autoconfiança e a capacidade de tomar decisões que priorizem nosso bem-estar. estabelecer limites, comunicar nossas necessidades de forma assertiva e estar disposto a fazer mudanças são passos fundamentais para adotar uma postura autônoma.
vai fundo
bbc
se está insatisfeito com seu trabalho, mas ainda não pode pedir demissão, é possível remodelar suas atribuições na empresa ou começar a enxergá-las de um jeito diferente. essa é a ideia do job crafting (trabalho feito a mão, em português).
mina bem-estar
maíra blasi solta o verbo ao criticar o ghosting coorporativo de empresas que entrevistam e nunca mais dão retorno.
g1
por que filmar a própria demissão virou trend em 2024.
uol
clt premium: relembre a onda de ostentação trabalhista que viralizou no tiktok.
você s/a
luciana camargo investiga a sutil arte de fechar ciclos.
bbc
talvez você já tenha ouvido falar em demissão silenciosa (ou quite quitting). ela ocorre quando os funcionários decidem fazer somente o mínimo para permanecerem no emprego, em meio à sobrecarga de tarefas. a bbc aponta como esse movimento pode melhorar a dinâmica das empresas a longo prazo - foi isso mesmo que você leu.
meio e mensagem feat. unila feat. universa
ainda estigmatizadas e com dificuldades de acessar melhores cargos e salários, mulheres são menos felizes no trabalho do que homens, mostra estudo.
clickbait do bem
“dormi no ônibus da empresa e acordei em outra cidade”
nesta edição do podcast histórias da firma, deia freitas conta o dia em que um motorista passou o horário de almoço em um busão da companhia e cochilou. você não vai acreditar aonde ele foi parar enquanto dormia.
aproveita essa tour para pensar:
não durma no ponto, muito menos no ônibus.
beijo beijo!
Ando pensando tanto nessas questões. Acho que é algo que passa muito pelas culturas dos locais onde trabalhamos também. No espaço acadêmico, por exemplo, existe uma dinâmica meio cult-like que é assim: se alguém deixa a academia, é como se a pessoa tivesse morrido. Não há vida além. Ir embora é uma tragédia. Outros trabalhos que se faça são inferiores/contam menos. E é um exercício constante não se deixar levar pelos valores do grupo.
esperto é o datena, que concorre a vaga em job tóxico dando cadeirada na entrevista